Monday, September 04, 2006

Bala

Dizem que, precedendo o fim, um filme passa em nossas cabeças.

A bala, expulsa do revólver, toma o rumo dos meus miolos. Definitivamente, não é das mortes mais dignas.

Girando sobre o próprio eixo um tanto cambaleante, o projétil pede passagem no ar, deixando um rastro encantador.

Penso no futuro. Sempre fui um sarcástico. A morte, agora, não assusta. Não mais considero o irremediável remediável.

Milésimos se transformam em segundos. Deus, em uma grande alegoria. As perguntas ficam sem respostas, apesar do ponto final, firme em sua trajetória.

Ao contrário da bala, nada do passado me vem à cabeça. Nenhum arrependimento, nenhuma alegria. Só uma certeza.

Erros, acertos e ninguém para me julgar. A consciência, sob as vestes de um juiz, consolida o livre arbítrio.

Parece mais um curta-metragem.

1 Comments:

Blogger Romeu Temporal - Economia Política said...

Ato Suicida

A etimologia da palavra suicídio designa o ato de dar cabo à própria vida. Buscando estudar como os valores sociais produzem a coesão em um grupo, Emile Durkeim deteve-se no seu livro O Suicídio sobre como uma desorganização social pode provocar no indivíduo a ação de tirar a própria vida para evitar tensões insuportáveis. Durkeim classificou os suicidas em três tipos: O egoísta, que se mata para não sofrer mais, O Altruísta, que busca não dar trabalho aos outros, e O Anômico, por causa de desequilíbrios sociais.
Posteriormente, Freud colocaria a questão da motivação do ato, argüindo sobre a identificação do agente desta ação. Sugerindo ser o sujeito do inconsciente aquele capaz de superar a poderosa força da autopreservação, ele colocou a questão: Pode uma libido desiludida, por seus próprios motivos egoístas, exigir que a vítima dê cabo da melancolia insuportável?
Como entender a passagem ao Ato, que, por excelência se define ex post quando passa da intenção à ação, jamais como um ato falho, mas sempre como um êxitoso ato de assassinato cometido pelo grande Outro? Impossível escutar a fala do próprio autor sobre este ato. Seria ver o ato escapar de imediato. É nesse sentido que o ato ultrapassa o sujeito. O sujeito não comanda o ato. O ato é acéfalo. O sujeito suicida só o é depois do ato. Como entende-lo: Momento de concluir, relâmpago da verdade, ou instante de despertar? Vemos que é um ato pouco inclinado a deixar-se explicar.
Kant resumiu o que interessa a nossa razão em três questões: Que posso saber? Que devo fazer? Que me é permitido esperar?
__ Saibam que a Esperança, que reside nas manhãs que cantam, já levou várias pessoas ao suicídio. A esperança é a pior forma de ignorância, e a veradeira felicidade está na sabedoria de não esperar nada. Quem quiser conhecer o caminho do desespero é só procurar desesperadamente a felicidade.-- Alertou um membro do grupo dos escritores suicidas, ao expressar no bilhete final que a sua morte foi um ato da sua própria vontade.
Ele opõe o ato voluntário e o involuntário, apontando o suicídio como uma ação involuntária, desqualificando a vontade do presunçoso que se julga consciente do seu ato. O suicídio é um ato involuntário porque emana do inconsciente. No neurótico, os pensamentos suicidas só são produzidos após a ocorrência de impulsos homicidas contra terceiros, que posteriormente ele volta contra si mesmo.
O perigo recai sobre o psicótico, incapacitado de metaforizar, de simbolizar ou produzir abstrações, ele sofre uma literalização do seu próprio discurso, quando na sua construção delirante se torna refém da própria fala, da escuta de vozes ou delírios persecutórios, ele pode fazer uma passagem ao ato suicida, que é radicalmente diferente do ato falho.
Os clínicos reconhecem que o ato suicida ocorre em um instante de elação, oposto à depressão, um momento de eufórica certeza, e não um produto de um estado de luto ou melancolia.
A mente baseia-se em valores sociais que, amansando as pulsões animais, norteiam como o homem pode se comportar. Quando uma mudança leva a perda dos pilares dos valores morais, o sujeito se torna um marginal dentro do seu próprio sistema de valores, experimentando um lancinante vazio de sentido de viver para o qual o desejo de morrer se apresenta como uma atraente fantasia a ser encenada mentalmente para uma audiência que se curva ao ator da última fala.
O adolescente ao abandonar os papéis sociais da infância, respondendo a demanda para que assuma os papéis de adulto, experimenta esta marginalidade dentro da constelação dos valores que nos governam — que ditam os critérios das escolhas e do enredo de nossas vidas.
É preciso tratar este tema com compaixão.
Tornar visível a poesia deste ato tenebroso é a melhor forma de expurgar a sua ameaça velada, muda, mas sempre presente.
Abraços,
Romeu

8:31 AM  

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