Sunday, August 13, 2006

O Julgamento

Todos reunidos, o sol faz brilhar as grades e o silêncio não vem fácil. Julgar os pares não é lá muito agradável, a toga não lhes cai bem. Afinal, ali todos são inocentes e a regra é solitária, sem a exceção para fazer companhia.

A acusação é uma dívida. O malandro vendeu uma mercadoria e não recebeu pagamento. Malandro samba mas não perdoa. Procurou quem de direito e fez a queixa. O júri, alinhado, não senta mais no banco dos réus. O alívio não transparece, ofuscado pelo nervosismo. O juíz, incomodado com o calor da cela, pede que apressem os procedimentos.

O malandro espera que o júri sentencie. E ele execute. Errar é humano, mas ali dentro não tem perdão. A defesa inventiva e apaixonada, a acusação dura. Crua e dura. O júri se fita aguardando um consenso. Consenso irreparável, de dar orgulho aos juristas mais apaixonados. A lei é aplicada de forma implacável. Inapelável. A lei da cadeia não é cega. Lá, o crime não foge à vista.

Julgado, subjugado, vê o seu atestado de óbito. A grade, como sempre, impede a fuga. Morto, ao contrário de sua dívida, ainda viva. Defunto não paga, mas a honra do malandro é elevada. Os sentenciados sentenciam e assim segue a cadeia.

No próximo capítulo, Brasília, onde ladrão também julga ladrão e todos se dizem inocentes.

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